Na contabilidade, o relógio é um adversário constante. Entre o fechamento de balanços, as oscilações da malha fina e a entrega de obrigações acessórias, os contadores brasileiros enfrentam uma carga mental que vai muito além das planilhas.
O fenômeno, conhecido como estresse ocupacional, deixou de ser apenas um “cansaço de fim de ano” para se tornar uma preocupação central de saúde pública e de conformidade legal nas empresas.
A SST (Saúde e Segurança no Trabalho) refere-se a um conjunto de normas, diretrizes e práticas obrigatórias no Brasil, regulamentadas pelo Ministério do Trabalho. Ela tem o objetivo de proteger a integridade física e mental dos trabalhadores, prevenindo acidentes e doenças ocupacionais através da identificação de riscos e implementação de medidas de segurança. Em 2026, essas regras tornam-se mais rígidas.
Vejamos mais detalhes no texto a seguir.
Quando a demanda supera a capacidade
O estresse ocupacional não é uma irritação passageira, mas uma reação física e emocional profunda que ocorre quando as exigências do ambiente de trabalho ultrapassam a capacidade de adaptação do profissional.
No caso dos contadores, essa pressão é alimentada pela responsabilidade civil e criminal sobre os dados, além de uma rotina marcada por picos de sobrecarga.
Os sintomas costumam ser progressivos: cansaço persistente, tensão muscular e a perda da capacidade de concentração — algo fatal para uma profissão que exige precisão cirúrgica.
Quando o estresse transita do estado agudo (prazos pontuais) para o crônico (pressão contínua sem recuperação), o risco de esgotamento total, ou Síndrome de Burnout, torna-se uma realidade alarmante.
NR-1: a saúde mental como norma
O cenário ganha uma nova camada de seriedade com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1). A partir de 26 de maio de 2025, a avaliação de riscos psicossociais passa a ser obrigatória para todas as empresas brasileiras. Isso significa que escritórios de contabilidade e departamentos fiscais deverão identificar e controlar fatores como metas excessivas e jornadas exaustivas.
Para o setor contábil, a NR-1 é um divisor de águas. A norma exige que os empregadores olhem para a organização do trabalho. Não basta mais apenas oferecer benefícios; é preciso avaliar se a jornada longa e a falta de suporte estão adoecendo o contador.
Causas e planos de ação
As causas do estresse na contabilidade são sistêmicas. A instabilidade do sistema tributário brasileiro obriga o profissional a um estado de alerta permanente. Quando somamos isso a relações interpessoais desgastadas e falta de reconhecimento, temos o cenário ideal para a queda de desempenho e o aumento de erros técnicos.
De acordo com as novas diretrizes, as empresas devem elaborar planos de ação preventivos. Na prática, isso pode significar:
- Reorganização de fluxos: Evitar o acúmulo de todas as entregas na mesma semana.
- Suporte tecnológico: Automação de tarefas repetitivas para reduzir a carga cognitiva.
- Cultura de suporte: Treinamento para líderes lidarem com a pressão sem repassá-la de forma tóxica às equipes.
Conclusão
O bem-estar do contador é, em última análise, a segurança jurídica de seus clientes. Um profissional sob estresse crônico é mais propenso a falhas que podem custar caro às organizações.
om a chegada da nova NR-1, o mercado contábil é convidado a uma reflexão urgente: é necessário equilibrar o rigor dos números com o respeito aos limites da mente humana. Afinal, uma contabilidade saudável começa com quem a executa.
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